Frio

Fabiana tinha acabado de passar o café, estava um pouco tarde e as nuvens anunciavam chuva. Escolheu algo pra ler enquanto assoprava a fumaça na sua xícara de porcelana francesa. Na janela a chuva já caía inclinada e leve, tocando o vidro frio. Nada de interessante podia capturar da sua leitura, estava enfadonha, chata e desinteressante.
Lembrou-se de seus anos de ouro ao lado de Gustavo.
- Hahaha! Pára Gustavo!!
- Amor, eu sei que você sente cócegas no joelho, mas você tem que tentar segurar um pouco.
- Mas eu não consigo!!! hahaha páaaara!
Sinos da igreja a fazem voltar para o mundo real, ela não queria voltar, queria ficar ali pra sempre recordando  o passado. Decidiu sair um pouco, mesmo com toda aquela chuva. Foi no armário e pegou seu cachecol grená, sua jaqueta preta e seu guarda-chuva. Mas não arrumou muito o cabelo, tinha caráter de urgência para pegar um pouco de ar fresco e saiu.
- Amor, me promete que ficaremos juntos para sempre?
- Prometo.
- Promete nunca me magoar? ...   Promete?
A avenida estava toda congestionada, os carros parados, tudo parecia ter luz, cheiro e vida. Gotas rasgando o asfalto preto, escorrendo nos pára-brisas, placas vermelhas de pare, transito, pessoas, lojas e em meio a tantos encontros e desencontros lá estava Fabiana em busca de algo que a fizesse sentir rasgar em seu peito o amor, como uma luz amarela e quente que a fizesse esquecer toda aquela confusão consciente e saudade inconsciente.
- Querida, acorda! O café tá na mesa, tem suco de laranja também tá ?
- Que horas são amor?
Olhando seu reflexo numa poça gelada, Fabiana caminha perdida.
Pluft!
- Fabiana?
- Carol?
- Oii, quanto tempo, nossa você tá bem? Que saudade!!!
- Vem, vou te apresentar meu namorado, ele está ali dentro daquele bar, to louca pra botar o papo em dia com você.
- Ai, eu eu não sei...
- Vem! Pára de ser boba Fabi..
- Nossa, que lugar aconchegante ne? Aqui tá bem quente...
- Fabiana, esse é o Gustavo!